Friday, June 29, 2012

Hoje

Hoje, fazemos parte de um passado que poderá ser facilmente ignorado no futuro. História, na minha opinião, não deveria ser apenas lida ou decorada, ela poderia ser entendida como um pedaço do que hoje somos. Não pensamos assim, infelizmente não. As pessoas que viveram nos séculos passados seriam bobinhas, os "burrinhos" não conheciam eletricidade, quem diria os I (apple) isso ou aquilo? Nos acho retardados e tenho muita pena de nosco. As pessoas do futuro poderão rir da nossa sofrida vida pensando: como eles eram atrasados, como pensamos das pessoas que viveram antes do assassinado, que resolveram chamar de Redentor. Que continuemos tomando nosso gostoso Q-suco enquanto a vida anda. Depois viraremos história ignorada, como fazemos com eles hoje.

Thursday, June 28, 2012

Meu fuca

Era uma vez um menino que teve um fuca branco. Muitos anos depois e, por motivos de "força maior", foi obrigado a morar na longínqua cidade Londinium. Os fundadores da cidade usavam cavalos, no máximo "bigas turbo" de quatro cavalos bem alimentados. As ruas foram projetadas somente para estes veículos e esqueceram de prever o futuro. Políticos sempre foram burros e sempre serão. Passados dois mil anos, se vê claramente a falta de visão dos antigos governantes de Londinium. As ruas são muito estreitas, não há lugar para os carros andarem, muito menos estacionarem. Os governantes da nova Londinium resolveram dificultar ao máximo a vida de quem ainda insiste em ter um carro. Quando o infeliz acha uma vaga, ou corre correndo até uma maquininha de recolher dinheiro ou usa o mobile ( celular ). A placa do carro deve estar registrada e o cartão de crédito também, caso contrario o dono do carro em minutos estará frito, tipo bacon ao ponto. Eu, no último tempo de Brasil ouvi: Tá bem cuidado doutor!  Achei engraçado, lembrei do dia que achei uma vaguinha na Sr dos Passos em Poa, quando eu ainda era guri e tinha o fuquinha. O flanela me cobrou uns pilas e eu disse que não tinha. Ele olhou no fundo dos meus olhos e sentenciou: Chinelão.

Sunday, June 24, 2012

Felicidade

Ontem tive uma noite bem bacana. Fui convidado para ir na beira do Tâmisa num restaurante a escolher. Não estava frio e nem chovendo, por sorte nossa até então. Fui com duas pessoas muito especiais, portanto eu já estaria lucrando muito e bastante. Depois de uma caminhadinha, achamos um lugar que deveríamos ficar. Pegamos uma mesa ao ar livre perto de uma gente muito barulhenta, nos mudamos e ficamos melhor. O papo estava rolando macio e agradável, então pintou uma história de "gramática da língua portuguesa", coisa que as duas que dividiam a mesa comigo sabem e bastante. Me senti um troglo/analfa, pensei em me atirar no rio para tentar me afogar. Depois, me dei conta que as duas estavam batendo aquele papo cabeça, porque as apresentei e eu estava perto delas. Sei nada de gramática e nunca saberei. Para mim, se eu continuar a falar uma língua sem passar muita vergonha estaria cumprindo simplesmente com uma das minhas obrigações.

Saturday, June 23, 2012

Coisas de um velho

Fiquei todo feliz quando vi a espinha. Nasceu do nada trazendo minha antiga adolescência de volta. Pensei: Deveria eu fazer planos para um futuro distante? Haveriam talentos que ainda não me foram apresentados? Nada, apenas uma espinha que cresce sem muito parar. Hoje, fui na pharmácia da esquina comprar alguma "pomada de minancora" ou coisa semelhante. O menino do balcão disse: melhor perguntar para o tio pharmacêutico. O tio me disse: Tá feia a coisa, usa essa pomadinha por enquanto e assim que der, vai ver teu médico. Chegando em casa abri o potinho plástico e senti o cheirinho da tinta têmpera. Pô! tinta têmpera era a coisa que eu usava para pintar minhas obras de arte quando tinha uns cinco anos de idade. A mesma tinta que eu tentava camuflar os arranhados da gloriosa bicicletinha, que depois de qualquer chuva ficava sempre como antes. Se a espinha nao trouxe minha adolescência de volta, pelo menos me fez lembrar da linda sweet infância. 

Friday, June 22, 2012

Deusa Catarina

Moro numa cidade que o céu aparece azul quase nunca, os pássaros gorjeiam só por descuido e está sempre abarrotada de turistas. Os turistas, são facilmente identificados porque fotografam coisas óbvias e usam, na grande maioria, uma pochetezinha para esconder documentos ou algum dinheiro. Fico as vezes pensando, ver de perto o Big Ben ou o casarão que a Rainha mora seria melhor do que umas férias de verdade? Bom, agora tenho que explicar o que, para mim, seriam "férias de verdade". Para começar, quem esta escrevendo esse treco sou eu, portanto minha opinião conta e bastante. Segundo, eu trabalho aqui, portanto andar por Londres acho muito chato, tudo chato. Férias de verdade, foram umas que já tive e que um dia de novo terei. Pegar um carro e viajar uns Kms, alugar uma casa na beira da praia e fazer alguma amizade com o dono do restaurante mais próximo. Simples e sem aeroportos, apenas descansar do ano difícil. Essa ideia poderia ser aplicada para qualquer recanto do Brasil ou para qualquer cantinho do mundo, desde que Santa Catarina tivesse irmãs, ou primas. Quando estive estressado, coisa comum, queria apenas me deitar numa rede e olhar para o céu. Ouvir Bob Dylan e avistar o guri trazendo o pratinho dos camarões com a caipirinha. Depois banho de mar, com lua cheia ou não. Férias, todos precisaremos sempre.

Monday, June 18, 2012

Seren Del Grappa

Tenho muita sorte de estar existindo. Meu vô alemão, sempre foi bastante interessado em saber porque o biso dele tinha abandonado a Europa de "mala e cuia" para chegar num mato que Dom Pedro I era o presidente, descobriu quase nada. Meu vô italiano, não pude nem conhecer e menos ainda saber de alguma história, apenas me restaria supor. Meus ancestrais, acho que seriam uns caras muito pobres e sem nenhuma noção do perigo. Dois meninos com o saco cheio das vidinhas que eles estariam tendo no primeiro mundo e pensaram que não teriam nada a perder. Pegaram muita coragem e o primeiro navio disponível. Conheceram depois as suas prendas e tiveram uns filhos. Muitos e muitos anos depois, nasceu um rogeriento que achou uma fotografia da cidadezinha italiana de onde saiu o pobre triso em direção ao desconhecido Mato Grande do Sul. O gringo deveria ser meio doido, não diferente do outro maluco alemão. Acho invejável a coragem que os dois tiveram.  Graças à loucura deles,  hoje posso de uma maneira mínima tentar agradecer a minha existência. Grandes caras!

Sunday, June 17, 2012

Foi bem bom

Tinha eu um metro de idade ou quase, os bondes ainda circulavam pela rua onde minha vó morava. Ela me pedia para ir no armazém do seu Walter, que ficava numa esquina para trazer um litro de leite de garrafa ou algo que eu ainda poderia carregar. Meus olhinhos se dirigiam sempre para a outra esquina, onde ficava o cinema Orpheu. Eu era pequeno, não sabia nem o que cinema significava, apenas achava interessante a cor, design e o cheiro de mofo bom que o prédio exalava. O cinema fechou, ficou assim por muitos anos, até que reabriu com o nome de "Cine Astor" o primeiro cinema de Porto Alegre com som Dolby Stereo, ou o que isso significava. Um dos filmes que assisti no Astor, foi um que passou agora na minha english televisão, por isso a lembrança. Fomos juntos, meus pais e minha nova namorada. O filme de roteiro bem bom e história linda, seria um clássico se a trilha sonora tivesse sido melhor escolhida. Na metade do filme, pintou um cheiro ruim no ar. Minha namorada me deu uma cotovelada e disse: foi tu! eu cochichei: fiz o que? segundos depois, entendi a acusação. Terminado o filme fomos num restaurante diminuir a fome e as curiosidades, eu estava todo feliz com a coisa de poder de novo, misturar uma namorada com meus pais, foi bem legal aquele dia. A historieta daquele filme era sobre duas pessoas que se gostaram, porém sob um feitiço, nunca teriam a possibilidade de viverem os seus gostares na mesma época ou luas, como diziam os sábios índios. 

Saturday, June 16, 2012

Amigo

Nas vezes que levei o fora (pé na bunda) de alguma namorada, o meu amigo estava sempre on-line para ler meus e-mails depressivos e ainda por cima responde-los. O meu amigo é um cara brilhante, evidentemente se ele não fosse uma pessoa especial não seria meu amigo, ora pitangas!  Numa das respostas dos meus e-mails chorosos ele escreveu: "Acho legal umas coisas que escreves, porque não tentas um blog? Deveriam ser textos curtos sobre a tua vida de Londres e colocarias títulos em todos. Formato tipo coluna, entendeu?" Blog, naquela época (200 anos atrás) era uma coisa que poucos tiveram a coragem de começar. Pensei, tenho o que a perder? Moro na Inglaterra faz bastante tempo, se escrever alguma coisa errada vou ter a desculpa que esqueci da grafia ou das concordância. Muitos brasileiros que moraram menos tempo do que eu sempre usaram dessa desculpa furada por sempre escreverem mal qualquer frase, então vou nessa. Num único dia, escrevi cinco textos ruins e postei, enviei as "maravilhas" por e-mail para o meu amigo esperando algum comentário que nunca chegou. Depois, realmente comecei a esquecer umas palavras de português, então achei que seria a hora de me aventurar e escrever coisas, só para mim, no tal blog. O blog dei o nome de Londrices, e devo ao meu amigo o meu retiro, meu prazer. Quando o filme será chato, o livro óbvio e não tem jogo da seleção brasileira, me enfio no bloguinho para contar uns pedaços da minha vidota. Que saudades do querido professor Ornitorrinco!

Amor

Uns sentimentos são comprometidos com a mais profunda natureza do nosso viver. Uma das metades de mim esta longe de onde agora sou, construindo a vida e sinto enormes saudades dele sempre. A outra metade resolveu conhecer o país dos irlandeses. Ela fez tudo sozinha e simplesmente me avisou. Ontem, me sobrou apenas a simples tarefa de comprar uma mochila e me preocupar. O bom dos sentimentos bons é que eles existem. Quando chegou o transporte que a levaria  para longe de mim, ela me deu uns abrações que me deixaram muito feliz. Uma metade de mim estava contente, me senti bastante meio Rogério mesmo sendo pai dos meus grandes dois.

Dos arteiros

Moro numa catacumba que trabalhei muito para conquistar. Chove lá fora e nem está tão frio, porém tenho que secar umas roupas que a máquina lavou num aquecedor elétrico, meu grande amigo no longo inverno. Ligar o aquecimento da casa toda, faria minha catacumba virar literalmente um inferno, sou um catacumbento, mas nem por isso tenha que sofrer pelo rótulo. Literatura, que bicho é esse? Um dia fui numa exposicao de arte. Parei num quadro e um cara me perguntou: gostaste? eu disse: sim!  viste os cantos sincronizados com o meio, cada canto tem uma coisa a ver com a ideia central. Ele me disse: eu pintei o quadro, gostei muito da maneira que viste ele, não tinha pensado nele assim. Literatura pode ser a mesma viagem. Uns doidos escrevem e outros entendem elas como coisas que aconteceram ou deveriam ter acontecido.

Reverências

Alguma coisa de certo aconteceu na minha formação, ainda tenho que descobrir o que. Cento por cem das namoradas que tive miravam num espelho, que os pais brilhantes delas formaram como ideal de homem a acompanha-las pela vida. Eu era um menino, que chances tive? Um Sogro mais potente que o outro, e as filhas deles cada vez mais cobradoras das minhas atitudes, que inferno! Gastei tempo e uma fortuna com coisas ate mesmo de Jung, nunca entendi. O sogro mais querido que tive, é meu amigo ainda,  o médico de sempre preferido mesmo eu sendo pai de dois dos netos dele. Um dia perguntei: Dr Isaac, porque o senhor esta estudando alemão? Ele: porque quero ler Nietzsche no original. Eu tinha vinte e poucos anos e competia com uns caras assim, ate Freud diria que nunca foi justo. Meus dois filhos tem a sorte de ter um avo assim, estudou ate mesmo quando já sabia, aprender para ele, parece que sempre foi apenas prazer.

Sunday, June 03, 2012

Cheirinho bom

Passei na frente do Abbey Road Studios umas cinco vezes e atravessei a "faixa de segurança" somente duas, sou ridículo, mas tento não me machucar muito com esse problema. Entrar nos estúdios não resolveria nada, portanto nunca tentei. Entrar seria me decepcionar. Para começar, os equipamentos de gravação devem ser os mais modernentos da atualidade, e eu estaria buscando ver as gravadoras de fita de rolo feitas com ferro e a mesa de som de alumínio que eles provavelmente usaram para gravar as músicas que tão bem conheço, em dois ou quatro canais (tracks). Claro que, respeitando as diferenças, fui um menino de sorte, assim como Ringo foi. Eu era um destalentado que, mesmo não sendo o baterista na banda, aproveitei bastante a época para conhecer como funcionavam os estúdios profissionais e a indústria dos discos de vinil. Eu tinha 20 anos e circulava com umas camisas de seda perfumadas de gosto meio duvidoso. Depois nos trinta, usei umas gravatas. Agora apenas me dou conta do quanto já fui ridículo.

Friday, June 01, 2012

O Fog era fumaça


Começar com a palavra "não", soaria meio para baixo, então resolvi iniciar com uma qualquer e escolhi: começar. Não concordo com radicalismos (muito criativo Rogério, parabéns!), sejam eles de esquerda, centro ou direita, verdes ou fúcsias. Acho que as pessoas deveriam contribuir com o mundo, mesmo ele estando bastante torto, do que tentarem transformar o coitado exatamente naquilo que elas acreditam que ele deveria ser. Isto posto, posso agora falar do prazer que me deram algumas lareiras mesmo sabendo que uns verdes me chamariam de "assassino de galhos mofados" e os magenta gritando que eu não entenderia nada das " Frequências sincronizadas no universo".  Eu adoro lareiras, amava ficar olhando para o fogo que, além de me aquecer no inverno, me fazia pensar no presente com requintes de clareza. As lareiras em Londres foram proibidas no início dos anos sessenta. O " Fog londrino" vinha delas e das fábricas que um dia existiram. Coisas que poucos ou só os ingleses puderam ver. As praias do litoral inglês são piores do que as das Ilhas Malvinas aposto, e não bastando isso, no frio não posso nem olhar um foguinho. Que falta de sorte essa minha.