Tuesday, January 31, 2012

Pila na praia

O grito de “30 ovo por cinco pila” me chamou muito a atenção. Vinha de um caminhão quase se desmanchando, porém os alto-falantes e o microfone deveriam ser de muito boa qualidade, pois o som estava alto e claro. A questão do ovo da frase estar no solitário singular foi apenas engraçado. O Pila estaria tecnicamente correto segundo os linguistas gaudérios, mesmo assim morri de rir da falta do "s" na mercadoria e no preço. Tentei descobrir por que chamamos os nossos Pilas de Pila, achei uma história sem confirmações, assim como a do nome da moeda britânica "Pound", portanto cultura inútil ainda a agregar. Pode ser bobagem minha, mas eu gosto de ouvir o "s" dos pilas.

Sunday, January 29, 2012

Misterioso

O barulho que o mar traz sempre me fez sentir insignificante. Sabe-se lá o que assopra ou até mesmo urra. O mar tem a imensa capacidade de entoar minha vontade de saber o porquê de vários receios meus.

Wednesday, January 25, 2012

Longônada

Vou-me embora para Longônada, não sou amigo do Rei e muito menos do Seu Teló. A dona Luiza não conhece, pois estava em outro lugar e, desesperadamente, espero que nunca vá. Lá, BB teve vida longa e já faleceu, BBB sobreviveria uma semana ou outra. Longônada, mesmo sendo uma aventura, nunca misturaria salas com privadas. Vou-me embora para Longônada, aqui não sou feliz.

Monday, January 23, 2012

Dos puxa-puxas e sonhos com mumu

Como parte dos planos de uma vingancinha do inverno Londrino, rumei para a casa da praia. Viria sozinho me deixando completamente livre para que eu inventasse os rituais que bem entendesse. Fui colocar gasolina num posto da minha juventude e peguei a Free Way. A estrada parecia estar boa, mas cheia de motoristas tentando mostrar que seriam bons pilotos ultrapassando carros pelas três pistas, me senti inseguro e com vergonha de fazer parte da grande família gaúcha. Fiquei sempre longe deles, suicídio nunca será a minha onda. Chegando numa bifurcação, resolvi continuar pela estrada velha, queria lembrar da minha infância achando uns barracos que vendiam rapaduras muito duras e enormes roscas de polvilho. Nunca gostei muito dos quitutes, mas elas faziam parte das minhas saudades e resolvi procurar para dar de presente na minha chegada. Não encontrei os barracos e nem as coisas. Lá pelas tantas, procurando Morro Alto para virar à direita, me deparei com um túnel moderno, iluminado e interminável. Percebi que estava completamente perdido na estradinha que conhecia tão bem. A minha ausência modificou tudo e bastante. Meio desnorteado e triste, achei de novo o caminho da minha história. A estradinha de acesso à praia agora está completamente cheia de comércios. Quando passei pelo ex solitário pórtico de Capão da Canoa, avistei uma metrópole e me dei conta do quanto minha juventude tinha ficado antiga. Minha amargura foi diminuída quando encontrei minha irmã, ela disse: "Eu já peguei aquele túnel e me senti uma idiota tendo que andar vários quilômetros desnecessários, nem esquenta. Vamos fazer um churras ou um carreteiro? A caipira vai sair em minutos". A mãe e a minha sobrinha devem ter pensado: Bá, os dois vão começar a rir e conversar para todo o sempre.

Wednesday, January 18, 2012

Papelada trolha

Se amadurecimento significa resignação, vou ser um velho imaturo e muito ranzinza. Sonho sempre em andar pelas ruas de Porto Alegre que já andei (meu amigo talentoso que perdoe a pobritude da alusão). Meus sonhos sonham apenas com os capítulos bons das coisas, esquecendo ou negando os outros que não foram tão bons assim. Quando o sonho passa a ser realidade, percebo todo o eufemismo trouxa que uso para me enganar. As calçadas das ruas que sempre andei são armadilhas para as pessoas tropeçarem, as tintas das faixas de segurança só posso ver quando estou usando óculos de leitura. Os carros não param nos sinais vermelhos à noite pelo receio de serem assaltados, me avisaram. Paro em todos, ando quando a luz verde aparece, o certo seria assim. Ressuscitei uma carteira falecida. Nela cabe: CPF, identidade, titulo de eleitor, CNH, cartão do banco, IPVA, pilas, fotos, documentos do carro, moedas e o certificado de reservista. Faz nove anos que ando com dois cartões e nunca me pediram para nada. Já fui internado num hospital inglês, tive alta e não precisei mostrar nenhum documento para entrar ou poder sair. Hoje, fui num cartório fazer uma declaração de residência, num banco pagar uma taxa e tive que escrever e assinar uma declaração de que eu não seria analfabeto. Estava querendo renovar a minha autorização para dirigir em outros países pela terceira vez, depois de ter sido obrigado a fazer um curso de três dias sobre a nova legislação de trânsito na outra vez que renovei minha habilitação brasileira. No dia que me pedirem o número do CPF para que possam me vender um cacetinho em alguma padaria, nunca mais sonharei.

Democracia já!

Era uma vez um jovem bonitão, muito inteligente e sem nenhum cabelo que foi fazer cursos de especialização na Inglaterra. Como praticamente todos os espelhos europeus foram dados aos índios brasileiros como forma de conseguirem algumas vantagens, não sobrou quase nenhum para que nosso herói pudesse deixar de ser tão humilde. A falta de espelhos também contribuiu muito para que ele iniciasse uma carreira meio particular: a de mentiroso sincero. Como as rugas não puderam ser vistas e a rabugice não identificada, nosso amigo continuou firme nas suas tenras convicções: No verão faz calor e no inverno faz frio, nas lancherias ou restaurantes sempre teria uma mostardinha salvadora, e às 19:00 horas tem que ter a hora do Brasil. A Inglaterra não tem a hora dela e eu sinto muita falta. A hora do Brasil é um programa que me transporta aos anos 1930 e me faz pensar que vivo no meio do mato. Acho muito democrático quando na metade da coisa que estou ouvindo um diz: Em Brasília, 19:00 horas: O senador xarlenston Orilando de Xiruí quer descobrir quem anda roubando a merenda do grupo escolar da rua que ele cuida. A deputada estadual de Pexerequê, Elen Terezinha, vai elaborar uma emenda ao projeto mais água para quem ainda gosta de tomar banho no nordeste. Eu gosto muito do programa imposto, espero que nunca acabem com a raça dele. No entanto, se resolverem acabar, eu teria uns requintes de crueldade bem bons para sugerir.

Sunday, January 15, 2012

Oportunidade

Entrei num ônibus voador, sentei numa pedra parecida com uma poltrona e esperei. A pedra não reclinava, a janela não abria e o viajante que estava a minha esquerda dormia e dormia, ficando complicado pular a criatura para refrescar meu sentante. O monitorzinho que me cabia trancou, não conseguia nem desligar o infeliz. Quase chegando, senti os primeiros pingos gelados no peito. Depois de outros, descobri que estava chovendo em mim, apenas em mim. O ônibus tinha ar condicionado e estava descarregando as mágoas em alguém, tudo bem. Cheguei na rodoviária 40 graus, fiz a baldeação necessária e peguei um micro até meu destino final. Calor esperado, sol de brigadeiro, céu de brigadiano e eu feliz por dois curtos dias. A falta de chuva por um longo período estava trazendo sérios problemas para as pessoas da região. Eles não sabiam que um casal de nuvens pretas que se amam, haviam se escondido nas minhas sacolas. Chove sem parar já faz três dias. Sol e estrelas consigo ver apenas pela televisão, de novo. Tive a ideia de me oferecer para morar em qualquer deserto, assim o que pareceu ser um enorme azar pode ser transformado numa belíssima oportunidade de ganhar uma grana preta com as minhas nuvens.

Friday, January 06, 2012

Um amigo meu

Quando fui apresentado ao Sr Wilfred Mansfield, fiquei meio sem ter o que dizer. Ele me olhando com desconfianças, afinal eu seria um brasileiro da casa dos comuns, nunca se sabe o tipo. Quando finalmente chegamos num parque de Londres, começamos nossa caminhada. Tivemos uns bons monólogos, até o inglês ficar mais íntimo, mais amigo. O afeto e a amizade apareceram facilmente. Quem seria eu, para merecer a confiança dele? Num caminho desses, o inglês sentiu cheiro de comida e correu na direção de umas pessoas que faziam um pic nic. Eu com vergonha da atitude, corri desesperadamente atrás para tentar impedir o roubo e a comilança das comidas. O Wilfred tem só um objetivo na nobre vida, comer tudo o que ele puder, enquanto ela dure. Ele é um nobre inglês, magro, limpo e bonito. Único defeito seria o de ser um grave ladrão de comidas.

Thursday, January 05, 2012

Cabelos brancos

Depois de já ter feito uma viagem longa e chata, chegar em Porto Alegre e achar os que me esperavam era muito fácil. Uma baixinha de cabelos brancos perto de um senhor bem mais alto, com os cabelos também descoloridos, eram uma fácil referência. Na última vez que cheguei no aeroporto eles não estavam, e ninguém me esperava, por motivos completamente entendidos. A vó já tinha viajado, e meu pai estava pensando em cometer o mesmo erro. Dias depois, cometeu. Os de cabeça branca, eram as minhas referências. Perdi eles e as tais. A baixinha esperta, me fez acompanha-la por uns 8 anos na procissão de Sta Rita que ela gostava. Eu ia, porque amava ela, e ela sabia disso. O mais alto de cabeça branca, foi meu melhor amigo. Nunca me deu colher de chá em nada, nem eu para ele. Quando pude começar a ganhar dele no xadrez, ganhei umas, uns empates, até ele se recusar a jogar de novo. Eu ria da cara dele. A vó, e o pai foram meus ídolos para tudo. To sem, perdi, que merda!

Wednesday, January 04, 2012

Natal

Depois que ganhei o "Autorama do Emerson Fittipaldi", o dia do Natal começou a ficar cada vez mais sem graça. Para ser mais claro, cada vez mais triste. O pinheirinho cheio de "enfeites", e lampadinhas piscantes por todos os lugares, começaram a me incomodar. Minha rabugice teria nascido no Natal de 1800 e poucos, quando eu tinha uns 11 anos de idade. O presépio montado ao pé da árvore começou o problema, e cantar a música "Noite feliz", naquele tom deprimido, me fizeram um adolescente rebelde. Porque? para que? e os pobres? quem inventou isso? quem ganha? quem perde? qual é? Da rebeldia, nasceu um sentimento nobre, que uns denominariam: pena de quem gosta do teatro. Passados mais de duzentos anos, meu irmão me telefonou, todos os anos comete o mesmo erro, me intimando para um almojanta de Natal. Gosto do guri, abandonei a minha amada caverna, e fui na coisa de Natal. Fui comprar um presente, na loja que compro presentes pra ele sempre, e a loja estava fechada, dia 25 de dezembro nada funciona. Peguei um vinho bom e fui ver o mano. Na casa dele, tinha árvore, presente para mim, e entendimentos. Meu inglês é pobre, o português dele também, então falamos uma coisa pelas metades. Adorei quando voltei do lavabo e ele apontou para onde eu estava vindo, e mudo, começou a rir muito. Eu perguntei se ele estava bem. Ele: eu não lembrei como te dizer em português, não deixa a porta aberta. Foi engraçado, ele é toda a minha grande família aqui.

Sunday, January 01, 2012

Uns

Nem faz tanto tempo assim. Umas pessoas tinham apenas umas folhas de papel, canetas que seguidamente precisavam de tinta e umas velas que teriam que ser trocadas. Mesmo com todas essas dificuldades, escreveram coisas lindas, marcantes. As abreviaturas seriam coisa de um futuro ainda muito distante, não ainda imaginado. As vogais e consoantes deveriam sempre andar juntas, afinal fazem parte de uma familia chamada Palavras. Imagino, na minha ingenuidade, que para desenhar a última vogal de uma frase, parágrafo ou livro, algum grande escritor tenha que ter trocado uma vela, colocado tinta na caneta, ou ter inventado algo para apagar um errinho anteriormente cometido. Hj td fkou + fcil, blz?