Wednesday, January 18, 2012

Papelada trolha

Se amadurecimento significa resignação, vou ser um velho imaturo e muito ranzinza. Sonho sempre em andar pelas ruas de Porto Alegre que já andei (meu amigo talentoso que perdoe a pobritude da alusão). Meus sonhos sonham apenas com os capítulos bons das coisas, esquecendo ou negando os outros que não foram tão bons assim. Quando o sonho passa a ser realidade, percebo todo o eufemismo trouxa que uso para me enganar. As calçadas das ruas que sempre andei são armadilhas para as pessoas tropeçarem, as tintas das faixas de segurança só posso ver quando estou usando óculos de leitura. Os carros não param nos sinais vermelhos à noite pelo receio de serem assaltados, me avisaram. Paro em todos, ando quando a luz verde aparece, o certo seria assim. Ressuscitei uma carteira falecida. Nela cabe: CPF, identidade, titulo de eleitor, CNH, cartão do banco, IPVA, pilas, fotos, documentos do carro, moedas e o certificado de reservista. Faz nove anos que ando com dois cartões e nunca me pediram para nada. Já fui internado num hospital inglês, tive alta e não precisei mostrar nenhum documento para entrar ou poder sair. Hoje, fui num cartório fazer uma declaração de residência, num banco pagar uma taxa e tive que escrever e assinar uma declaração de que eu não seria analfabeto. Estava querendo renovar a minha autorização para dirigir em outros países pela terceira vez, depois de ter sido obrigado a fazer um curso de três dias sobre a nova legislação de trânsito na outra vez que renovei minha habilitação brasileira. No dia que me pedirem o número do CPF para que possam me vender um cacetinho em alguma padaria, nunca mais sonharei.

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