Monday, January 31, 2011

Carroças

As piadas depreciativas, que os ingleses que conheço fazem sobre o Brasil, me incomodam muito. Sou o único nascido nas Américas, de um grupo de uns 80 profissionais, talvez seja esta a explicação pra eu não compartilhar das felizes gargalhadas. Seguidamente, tenho vontade de convida-los a visitar minha cidade, pra que vejam como as piadinhas são ridículas, e sem graça. Depois, lembro que na minha cidade, falta água e luz com frequência, e que as carroças ainda circulam. Eu ficaria com muita vergonha. Carroça, é um veiculo de madeira de tração cavalar, conduzido normalmente, por um animal. Se já foram proibidas, ou o uso dos relhos também, não sei. Eu vi, faz uns 5 meses, um animal dar relhadas num cavalo puxando um treco daqueles, pesado e carregado de coisas. Ainda existe polícia na minha cidade? Cavalos aqui, são tratados com o respeito que merecem, uns são assistentes de policiais, outros correm por prazer, e os da guarda Real, comem alfafa importada do Brasil, e do "tipo exportação".

Wednesday, January 26, 2011

Culturas

Quando tento dizer em inglês: Generalizar, generalizado, ou generalização, ainda fico com alguma vergonha, minha língua normalmente me trai, tranca. A língua mãe, o português, me puxa para os significados das palavras como eles estão nos dicionários que conheci, e então, depois da trancada, tenho uma leve tendência a generalizar sobre a linguagem, e o povo inglês. Já pedi, e já ouvi pedidos de desculpas em português. Já disse com licença, e já ouvi com licença. Já pedi perdão, e já me pediram perdão. "I'm sorry" que é usado como uma das palavras para os pedidos de desculpas, licenças, ou apologias em inglês, também pode significar: Sai da frente, cala a boca, é meu, não entendi, não me enche o saco, eu vi primeiro, vai à merda, este lugar é meu, fala mais alto, tu és burro?, deixa de ser grosseiro, e etc... O que realmente eu gostaria de ouvir, em vez de um, refrigerado, I'm sorry, seria alguém desse povo poder olhar no olho de outra pessoa e dizer: Cara, eu tava errado, me desculpa? Nunca vi, e acho que nunca acontecerá. Se generalizei, I'm very sorry.

Tuesday, January 25, 2011

Eu tinha eu

Pra quem se tornou analfabeto, depois de apenas 20 horas de viagem, ate que me sai bem. Caminhava muito, olhava tudo com muita vontade de saber o que era, e não sabia como, pra quem perguntar, ou onde seria a biblioteca brasileira mais próxima. Num daqueles primeiros dias, passei por uma banca de frutas, vi ameixas vermelhas, que eu adoro, e comprei umas. Sentei num dos bancos que pareciam com os dos "bondes da Carris", e comecei a apreciar meu lanche. Olhava pra água marrom do Tâmisa, querendo enxergar o "verde límpido" das águas do rio, lagoa, estuário, lago Guaiba, via quase nada de semelhante. Eram meus olhos cheios de saudades, e minha vidinha, que estava pra recomeçar. Cheguei ate a procurar alguns "pires voadores no céu", mas tinha nada com o exílio político do autor da frase pirada. Eu mesmo tinha decidido vir, teria que descascar o abacaxi, e sozinho.

Monday, January 24, 2011

Boteco antigo

Entrar num pub (bar) inaugurado em 1585 que sempre funcionou no mesmo lugar, mesmas paredes, mesmas algumas coisas, deu um nó na minha cabeça. O segundo piso, como dizem, ainda está intocado. Me senti dentro de um filme medieval, o ambiente era, mas as pessoas que estavam inocentemente jantando destoaram da minha viajada no tempo. Histórias, tem várias, umas dificeis de serem levadas à sério: Vários enforcamentos nas árvores dos jardins, Byron escrevia as coisas dele tomando umas cervejas numa das mesas, Dickens falou do bar num livro e Abraham Stoker teria visto alguns fantasmas dos enforcados que o inspirariam na construçao da personalidade do Drácula. Vi nada disso, apenas um casarão bem velhinho, muito interessante, e que eu gostaria de ter conhecido quando cheguei a Londres, já faz muito tempo.

Tuesday, January 18, 2011

Lollipop man

The school crossing patrol officer, são as pessoas que ajudam os estudantes mirins a atravessar as ruas mais movimentadas, perto das escolas. Vestem cores gritantes, impossíveis de não serem avistadas, e carregam uma placa muito respeitada. Ela simboliza crianças caminhando pelo asfalto, e que se o motorista não tiver todo o cuidado, quem sabe não reinventem a forca, só pra elezinho. A profissão de ajudar os pimpolhos a cruzar as ruas, tem mais de 50 anos,e mesmo com a avançada idade e importância da função, apelidaram os anjos das travessias escolares carinhosamente de "Homens Pirulito". Tem umas atitudes de segurança, que eu admiro nesse povo.

Monday, January 17, 2011

Tudo igual

Passei por uma fase de analfabetismo traumática. Um dia, me dei conta que quase todas as palavras english, que tem origem no Latim ou Grego, são usadas no inglês, pensado ser o mais polido. A regra é simples: Mudar o acento tônico sempre pra primeira sílaba, não usar os chatos acentos gráficos, e cortar as xaropes vogais dos finais das palavras escritas em português. Mágica, ou Magic? Nada, me ralei todo pra descobrir o truque. Única vantagem que tenho agora, é poder dizer uma palavra em português pra um inglês, e se ele não souber o significado, mandar o cara procurar no dicionário da língua dele.

Sunday, January 16, 2011

Photografia

Consegui ver uma foto de Londres em 1880, meus achismos fizeram mais sentido agora. A classe trabalhadora, apesar dos altíssimos preços das propriedades e dos alugueis, mora muito mal, sempre morou. A grande peste, epidemia de cólera, incêndios frequentes, e a cultura do banho semanal, pude entender melhor. As pessoas viviam amontoadas nuns casarões, sem água corrente, saneamento básico, e a única maneira de aquecer o lar, era fazer um fogo na lareira. Pra tomar banho, a criatura teria que deixar a casa, e enfrentar o frio da rua ate chegar na "casinha de banhos", arriscando ser o responsável por incendiar a própria casa e de todo o quarteirão, pelo menos. Como lavar e secar as roupas, deveria ser uma coisa muito difícil, e o fog londrino (fumaça das chaminés) ainda existia, os banhos, não deveriam fazer muita diferença.

Friday, January 14, 2011

Banhos

Ouvi, e li muitas coisas sobre os costumes europeus. Umas, completamente sem sentido, entretanto a matança desavergonhada dos banhos, infelizmente, é verdadeira. Eles enforcam os banhos diários com explicações sem nenhum fundamento científico: O corpo não precisa, faz mal pra pele, é ruim para os cabelos, diminui os anticorpos, enfim, deslavadas pobres desculpas, pra não passar frio no banheiro. Pelas dificuldades de outros tempos, as banheiras ficaram fazendo parte da cultura deles. Banho de banheira, pra mim, é muito relaxante, mas não vale como uma boa chuveirada. Tem uns que se enfiam numa banheira quentinha, passam um sabonete no corpinho sujo, se enxaguam na mesma água quentinha e ensabonetada, cheia das sujeiras, e depois se sentem limpinhos. Na verdade, as toalhas limpam, um pouco, as criaturas. As aventuras banheirísticas, nos casos mais graves, são de apenas uma vez por semana, juro.

Saturday, January 08, 2011

Minhas mesmices

"Viajar é mudar o cenário da solidão". O eterno querido poeta, sentiu uma boa verdade, e o talento dele se encarregou de por "a coisa" no papel. Lembrei da frase, porque me dei conta de como a minha atual vida inglesa é parecida com a antiga brasileira. Faço tudo igual, compro o mesmo sabonete, pasta dental, café, tudo igual. Ele, o Mário, será sempre o mais sábio passarinho que nunca passará.

Wednesday, January 05, 2011

Povo

Já vi esse filme, não lembro onde, e nem em que plano econômico. Preços aumentando mais do que a inflação assumida pelo governo, um dia vai mexer na vida do povo. Povo, no meu dicionário significa: A maior parcela dos habitantes de algum lugar que trabalha muito, aproveita muito pouco a vida, lê jornais, e portanto fica sabendo nada do que está acontecendo, pois não tem acesso às informações de quem não faz parte da categoria. Os ingleses não tão vendo, acham que os dinheiros fáceis das já libertadas colônias apareceriam novamente, ledo engano. Vão ter que pensar, suar as camisetas bastante pra tirar a terra deles da futura condição de país ex desenvolvido.

Monday, January 03, 2011

Minhas negras pretas

Cachorros, são criaturas meio raras em Londres. Quando vejo uma cadela Rottweiller, me contenho pra não abraçar o bichinho. Vai que o dono pense que eu seja um suicida, ou queira simplesmente atrapalhar o passeio dele, fico então só na vontade. A Tora (Anny) me salvou de muitas, e eu pude retribuir em outras. Uma vez, estávamos numa praia de SC, teríamos que andar por um caminho muito difícil, com uma espécie de escada toda embarrada, ela trancou. Peguei o bichinho no colo e fiz a travessia da coisa por nós dois, ela era pesada pra caramba, quem viu não acreditava, a parceria merecia. Na mesma praia, quando ela viu o mar pela primeira vez, fui tomar um banho, ela foi nadando desesperada pra me salvar duma coisa que ela ainda não conhecia, me pegou pelo pulso com os dentões injustamente tão temidos, e me levou pra beira da praia. Depois, que eu tava obrigadamente sentado na areia, ela me olhou, bufando e com raiva, acho que querendo dizer: " Vai que tu desapareça, o que seria de mim?" Uma filhota dela, a Athena, escolhi pra ficar na minha casa, quem estava dentro, era tratado com "mimos de duas gatas", quem queria entrar sem convite, teria sérios problemas de acesso. Meus filhos, quando pequenos, faziam delas os cavalinhos deles, elas se prestavam. As Rott, latem pouco, entretanto, são muito claras na comunicação, dizem com a postura e com os olhinhos: Se pulares o muro, meu instinto será de proteger o meu dono.

Sunday, January 02, 2011

O templo dos cavaleiros

Guinevere (Gwenhwyfar) teria sido uma mulher de muita sorte, teria casado com o equilibrado Rei Arthur, e mesmo com um grande sentimento de amor e culpa, teria aproveitado muito bem o romance com Lancelot. Merlin, não deveria ser muito amigo do Rei, se fosse, avisaria o cara antes. A história ficaria meio sem graça, foi por isso, acho. Resolvi lembrar a lenda dos cavaleiros da mesona redonda por um motivo muito simples. O templo onde os knights ingleses eram efetivados ainda existe, terminaram as obras em 1185. Quando vi, pela primeira vez, achei que fosse uma igreja qualquer, depois me interessei mais. Os cavaleiros receberam um monte de privilégios dos Reis, e não souberam aproveitar. A impunidade total durou mais de cem anos, depois a coisa ficou diferente. Os mal comportados, foram destituídos das honras todas, processados e alguns executados por assassinatos e roubos. O templo fechou como templo knight em 1307. Séculos de atividades diferentes se passaram, uma bomba incendiária de 1941 acabou com o telhado, e com tudo de madeira que existia no lugar. Foi restaurado como deu, hoje esta lá firme e forte, e bem perto das casas do parlamento.

Saturday, January 01, 2011

Na frente de um bar

Seria um pub como qualquer outro, ate alguém me dizer que na frente do inocente buteco, aconteceu o crime que causou o último enforcamento feminino no Reino Unido. As vezes, nem sempre, me dou conta que vivo em terras do além mar, tudo é meio diferente. Juro, pensava que a última pessoa a ser enforcada teria sido Tiradentes, ignorância minha. Ruth Ellis, tinha 28 anos quando, depois de seguir, encontrou sua infiel paixão, acompanhado de outra mulher. O cara não tava mais afim nem de papo com a criatura, então, ela tirou da bolsa um 38, e acertou quatro tiros nele. Pra tragédia ficar ainda maior, uma bala, depois de ricochetear, acertou o dedão do pé de uma lady que estava saindo do pub naquele momento. Três policiais que estavam tomando umas cervejas no pub, levaram a psicotizada jovem para a central de polícia mais próxima, não constatando nenhum problema psiquiátrico de livro, sinal de drogas ou álcool, encaminharam a criminosa para o presídio de Holloway e, depois de uns dias, decidiram enforcar a descontrolada. Isso aconteceu em 1955, os homens continuaram a ser enforcados por mais uns anos. Se ela tivesse enchido a cara, teria alguma desculpa, não tinha. Depois, aconteceram movimentos populares fortes em repúdio a prática dos enforcamentos, que finalmente acabaram. Os namorados morreram de maneiras trágicas, provavelmente porque um estaria surdo, e o outro mudo.