Sunday, October 30, 2011

Dos retardados

Eu que sou meio lento, tive que fazer umas comparações para entender a ilha que vivo. Para os gaúchos seria uma obviedade, para outros talvez algo mais emocionante. A militarizada Argentina do Gen Galtieri invadiria o RS. O Uruguay, de medo, não se meteria na questão. As forças armadas brasileiras pensariam que os gaúchos deveriam conter a coisa sozinhos, afinal a Argentina seria apenas um paisinho cheio de gente metida à besta. As tropas argentinas, depois de alguns Kms, dominariam o palácio Piratini e começariam a regrar regras argentinas em Porto Alegre. Chimarrão apenas seria permitido se açucar fosse adicionado na erva. Churrascos seriam apenas aceitos se feitos em grelhas, dos tipos que se faz paella, já me fiz entender? Guerra, morra quem tiver que morrer! A Inglaterra invadiu e dominou a Escócia, Irlanda, e o País de Gales já faz um tempo. Agora que a união europeia ta explodindo, seria uma bela oportunidade para esses povos se libertarem da escravidão cultural inglesa. Sempre me pergunto, que cultura? e para que impingir açucar no chimarrão dos outros? Gosto, cada povo tem o seu. Vou abrir outra garrafa de vinho.

Friday, October 28, 2011

VARIG, Varig, varig

Ao lado do sofá de canto branco, sempre rabiscado com canetas coloridas, era o lugar da árvore de natal. Nos dezembros, como filho mais velho, tinha que catar pedras e tijolos pra calçar a imensa árvore (pinheirinho natural) dentro de um balde de metal. Minha irmã ainda chupava bico, vestia vestidos indecentes que mostravam a bunda gorda coberta por umas calçolas rendadas. Meu irmão, ainda nem pensava em nascer, e lá estava eu responsável pelas raízes natalinas, assim como a de acender as lampadinhas, a pisca-pisca era a mais dificil de fazer funcionar, que saco! Depois do trabalhão todo, meus momentos de recompensa apareciam na televisao. TV era uma coisa enorme com um botão de ligar/volume, dois misteriosos e um grandão para trocar de canais. Tinha o canal 5 e o 12, nunca entendi para que aquele botaozão enorme servia. Natal sem os comerciais da Varig nao seriam verdadeiros natais, a musiquinha (jingle), e as histórinhas dos filminhos me davam a sensação de que o Natal seria um acontecimento muito importante, talvez muito mais do que a expectativa que os sonhados autorama ou bicicleta puderam me causar. Numa briga para manter ou conquistar passageiros, a British Airwais (Varig dos ingleses) e a Virgin (uma nova qualquer) estão deixando meus antigos olhos críticos sem palavras. Os caras estão em pé de guerra! Os comerciais estão querendo pegar no fundo do coração das pessoas, quase conseguindo. Espero que a briga dure até o natal e que façam crianças ingênuas, como eu, acreditarem nas estrelas brasileiras do céu de anil iluminando de norte a sul, mensagens de amor e paz. Papai Noel voando a jato pelo céu...

Saturday, October 22, 2011

Ponte de Paris

Numa manhã como outra qualquer, uma xícara criou asas e se chocou violentamente com uma das minhas mãos. O café, por puro magnetismo, foi parar todinho no teclado do meu, ainda novo, e-jornal Sony Vaio. A coisa estava funcionando, mas apresentava sintomas de uma pneumonia importante, portanto tomei a única providência decente que me ocorreu, liguei pedindo socorro para a Sony da Inglaterra. A voz educada da atendente, me fez entender que eu deveria dar todos os dados do meu cartão de crédito para pagar o transporte e custos do orçamento para consertar o coitado do laptop, £50,00. Um motoqueiro pegaria o computador num dia à combinar, e devolveria quando eles achassem tempo para averiguar os estragos que o malvado café havia causado. Achei a coisa muito complicada e desisti. Achei uma loja autorizada da Sony, na Tottenham Court Road, para fazer reparos, tinha endereço fixo e talvez até CPF/CNPJ, levei o doente lá. Quando disse ao atendente o motivo da minha visita, o cara com uma cara de desespero me informou: Oh não! café é o pior líquido, entra nas veias dos Vaios e causam males, as vezes, irreparáveis. Vou entregar para um dos nossos "engenheiros", precisarás pagar £50,00 para o orçamento que será feito quando der, ok? Dez dias depois, recebi um e-mail da loja/autorizada dizendo que meu micro não teria mais conserto, a tela, teclado e as rebimbocas parafusetais estavam sem condições de funcionamento, o custo do reparo seria muito superior a compra de um novo, o que me aconselhariam. Triste, fui lá apanhar o bonito cadáver, antes de enterrar (jogar pela janela) o coitado tive uma ideia: Porque nao levar a alminha no Zé da esquina, que dizem reparar computadores? Levei, e no outro dia um "engenheiro" me telefonou dizendo que trocando a tela o laptop funcionaria e que me custaria £130,00, se eu concordaria com o conserto, respirei fundo e disse: serio? Narrei para a Sony da Inglaterra (não existe) meu caso e não obtive qualquer resposta. No tão mal falado Brasil, anda se tenta respeitar os cidadãos com orgãos que não funcionam direito, no primeiro mundo eles simplesmente não existem. Palavra de escoteiro, que ainda nunca fui.

Friday, October 21, 2011

Meus dois

Fui criado numa época em que diziam quem seriam, ou deveriam ser os inimigos. Mais tarde, descobri que eram quase todas histórias para amedrontar crianças respondonas, ou doutrina-las. Quando tive a oportunidade de ser o pai de dois, resolvi ir numa madeireira e construir, com minhas próprias patinhas, uma estante de parede inteira. Coloquei os livros preferidos mais ao alcance de gente baixinha, e os que não gostava nas alturas, a coisa era meio democrática, pela primeira vez eu era o chefe de alguns, enquanto a minha dona não estava em casa. Quando(sempre) eles me perguntavam alguma coisa cabeluda, eu era completamente honesto nas respostas, e depois apontava para a estante dizendo: Essa é apenas a minha opinião, a tua pode estar em algum daqueles livros, dá uma olhada. Se não achares ali, existem uns lugares cheios de outros que tratam sobre o assunto, posso te levar. Preciso dizer também, que as nossas opiniões vão mudando com o passar de algumas experiências adquiridas, entendeste? Os bichinhos, cada um no seu tempo, nem falavam fluentemente ainda, e eu enchia eles de democracia familiar. Nenhum dos dois lembra da estante mágica ou das minhas respostas sobre as perguntas feitas, já me conformei. O melhor da coisa toda é que eles tem fortes opiniões próprias e me querem ainda bem, mesmo eu sendo um pai que mora no outro lado do final do mundo. Assim reza minha historieta.

Sunday, October 16, 2011

Falando nisso

Em 1907, o construtor inglês William Willett resolveu ressuscitar uma ideia atribuida ao velho mundo de salvar energia para iluminação nos meses do verão. Com dinheiro próprio, distribuiu onde e quantos pode, folhetos explicando a ideia para conseguir adeptos. A Alemanha economizou muito com o recurso de mexer nos ponteiros dos relógios durante toda a primeira guerra mundial, e os Ingleses transformaram a obviedade em lei somente em 1916, um ano após a morte do inteligente senhor Willett. Eu jurava que o Horário de verão fosse uma obra do "jeitinho brasileiro", mais uma vez preciso reconhecer que os ingleses sempre tiveram boas ideias. Se não precisassem tomar tantos chás e jogar tanta conversa fora seriam um povo com uma vida bem menos complicada.

Sunday, October 09, 2011

Crise

Poderia até ser uma piada das inglesas, mas não foi. Num discurso preparado e avalizado pela equipe econômica do atual governo, fizeram o primeiro-ministro passar vergonha (bem feito para o bebezão riquinho). Disse ele num bom e claro inglês que o dever de cada cidadão, para ajudar o país a superar a crise econômica europeia, seria pagar seu cartão de crédito e todas as outras obrigações sem atrasos. Cá com os meus botões: juros, multas e taxas apenas loucos gostam de pagar, ou talvez eu esteja precisando de uma psicoterapia intensiva, acho que talvez. O que ficou claro no discurso, que subestimou quem teu um neurônio de reserva, é que o país não tem condições financeiras de segurar a falência de qualquer um dos bancos em atividade nas linhas territoriais da ilha. Se eu que sou estrangeiro me senti ofendido, quem diria os nativos que tem dois neurônios de reserva.

Saturday, October 08, 2011

Instinto assassino

São Pedro foi legal com os British e com os desgarrados que vivem nessa ilha fria. Nos deu um veranico no outono, muito melhor do que foi qualquer periodo do verão. Sete dias de sol presente, céu azul-chumbo (chumbo se deve a milhares de aviões que descarregam nuvens retas pelo céu, já falei e reclamei sobre, ninguém acha que tem algum sentido minha percepção), e insetos. Minha mosca de estimação apareceu, deu um oi e foi voar pelo verão. Acordei numa noite para um xixi, liguei a luz e um mosquito moscão estava grudado na porta branca do meu quarto, minha mão brasileira instintivamente matou o bichinho, depois pensei sobre meu ato medieval. O mosquito deveria ser jovem, nem havia me mordido ainda.

Vitrines

Somente nos casos de vida ou morte vou em lojas. Entro com pressa, compro o que preciso correndo, e só então me sinto aliviado da árdua tarefa. Se não gosto de entrar nas casas que vendem roupas, olhar vitrines pra mim seriam trailers de filmes de terror. Nas vitrines, pelo que me disseram, estariam expostas as melhores mercadorias, as mais atrativas, ou um convite irresistível para as pessoas entrarem no estabelecimento para deixar algum dinheiro. Para o meu gosto, e para o de quem já tive a satisfação de dividir as impressões, a maioria das vitrines de Londres seriam trailers de comédias pastelão, com direito a guerrinhas de tortas e gente caindo das cadeiras puxadas. Isso não é uma campanha particular de "desglamourização" da capital inglesa, afinal, glamour está no dicionário inglês pelo mais sublime acaso.