Wednesday, November 30, 2011

Versão

Ser artista, deve ser uma complicação. Para começar, a cabeça não funcionaria como as das pessoas normais. Depois, perceber incógnitas e simplesmente simplifica-las, deve ser o supra sumo da existência.

Friday, November 25, 2011

Bate papo

Numa das viagens de Porto Alegre à Londres, vim sentado ao lado de uma magrona de Caxias do Sul. Ela também morava na cidade já fazia um bom tempo, e estava me alugando para falar sobre as causas do fim da relação com o sortudo e irresponsável ex namorado. Aquelas onze horas de vôo, parecem uma eternidade para mim. Me distrair com fofocas alheias, sempre me ajudariam e o papo estava bem bom. Pego sempre uma cadeirinha no corredor, depois de algum filme mal assistido, posso passear pelo avião-cadeia sem me sentir muito preso. Vou lá no final, puxo um papo com as comissárias, ganho as vezes um café, uns minutos a menos da tortura e volto para a cadeira da bunda doída. A gringa falava pelos cotovelos, até que num momento me fez uma pergunta: o que estas trazendo de bom na mala? Eu, muito feliz respondi: 2 kgs de farinha de mandioca, umas folhas de louro frescas e 10 pacotes do cigarro que eu fumo no Br. O avião desceu no aeroporto e eu fiquei feliz da vida, algum tempo depois estaria de volta no meu ninho. Ledo engano, o raio X e um cachorro fofoqueiro fizeram com que eu tivesse que encarar uma fiscalização. A policial: estas trazendo quantas carteiras de cigarros? Eu: somente as que poderia trazer. Ela: então abre a mala e põe todas as coisas em cima dessa mesa que eu vou conferir. Fiquei furioso com a inglesa, mas abri a mala e coloquei toda a muamba na cara dela. Ela: porque tu mentiu? No meio do meu stress, vejo a gaúcha faladora com a mala sendo revistada por policiais num lugar próximo, e ela: quero ver agora tu explicares a farinha de mandioca e as folhas de louro.

Wednesday, November 23, 2011

Amigos

Mal ou bem, falo e escrevo usando outra língua todos os dias. Ainda me vejo como o menino que usou o silêncio como arma secreta contra os desavisados adultos de antigamente. Agora, apareceram outros seres de uma classe parecida. Não tento mais traduzir coisas, falo somente o necessário, e meus dentes são vistos apenas por acaso. Língua, que coisinha importante para respeitos merecidos.

Sunday, November 20, 2011

Aluno fraquinho

Já desisti de tentar parcerias numas coisas que penso. Os aviões tem um pouco de responsabilidade pelo céu londrino ser cinza, e trens de carga não teriam autorização para se moverem. Os aviões, quando estão largando aquelas duas linhas branquinhas no alto dos céus virariam tinta cinza, ou aquelas centenas de fumacinhas paralelas seriam bio-desaparecíveis. Todas as vezes que comentei minha percepção, desqualificaram. Os trens de carga não deveriam funcionar, não sei como aqueles trens andam. No "jardim do descanso" de onde trabalho, existem uns trilhos a poucos metros das cercas. O longo Eurostar passa por ali, mas quando aparece um trem de carga, fico admirando, admirado. Como um motor, por mais potente que seja, possa puxar uma tripa de vagões completamente mais pesados e sem apoio nenhum? Um, que um dia tentei dividir minha revolta me disse: Roger, já inventaram a roda, sabias? e saiu rindo da minha cara me achando ridículo. Eu fiquei pensando: a alavanca de Arquimedes deve ter sido uma invenção dos meus professores brasileiros de física. Os trens andam, quando alguém me der uma explicação para a mágica, dormirei mais feliz.

Saturday, November 19, 2011

Fidelidade


A escuridão do passado, neblina e solitude. A pintura fotografa com requintes, o que imaginei ser minha nova vida na então desconhecida Londres.

Friday, November 18, 2011

Dancing days

Me deu um branco, estou tentando contar o que ouvi hoje e ta difícil. Daria para começar de tantas maneiras que resolvi pular o começo. Tenho mais de meio século de vida, e por isso mesmo penso que os brinquedos que tive, ou a vida de antigamente não eram melhores do que a de hoje. Admito que se o toca discos parasse de girar, sabíamos que a correia tinha arrebentado, seria apenas pedir para uma amiga a borrachinha do cabelo que daria para continuar com a música. Agora se as coisas param, param. Se o carro tinha gasolina e não tava dando partida, lomba a baixo ou pedir para alguém dar uma empurrada. Agora, tentar fazer um carro pegar no tranco é mancada, o conserto vai ser e-isso, e-aquilo, muito e-atraso e muito e-caro. Hoje, um cristo plugou o telefone dele no amplificador que faz vibrar duas caixas acústicas, um canal não estava funcionando. Na seleção de antigas bandas inglesas, estava tocando the Hollies, música que tinha sido gravada em dois canais, ouvir apenas um, tava engraçado. O Paul fumando o cig dele no jardim do descanso, e eu disse: a coisa ta num canal, ouves a ridícula guitarrinha? Ele: e o baterista perdidinho? Então larguei: na época que comecei com a coisa de estúdios, se usava fitas de duas polegadas para gravar as coisas. As mesas de mixagem tinham uns três metros de comprimento e as gravadoras uns elefantes. Ele acabou comigo, disse: Lembra da banda Chic? vários sucessos internacionais? Eu tenho uma copia da master em duas polegadas de Good times, esta num armário da minha sala. Já pude ouvir apenas os violinos da gravação, muito legal. Do papo, me deu muitas saudades da época que eu podia aumentar ou diminuir os volumes dos instrumentos que coloriram a minha vida dos 20 e poucos anos. Agora, não tenho ideia de onde estaria o botão de volume ou onde estaria o liga/desliga de qualquer ser ou coisa.

Wednesday, November 16, 2011

Buteco favorito

Ontem começou o frio de novo. Gorro, luvas, blusão, duas meias, outro blusão, casaco, casaquinho, casacão, manta, cachecol, poncho, botas, como não quero xaropear ninguém, não vou reclamar do inverno europeu. Nem tentar convencer alguém de que morar em Londres seria glamourioso ou bacaninha. Vou falar de uma das mancadas que dei. Cheguei "sem pátria e sem amor" como um amado tio dizia, e fiquei assim por muito tempo. Num pub (buteco) que eu era freguês das sextas feiras( era barato, perto da minha maloca e as vezes tinha uma banda que tocava músicas que eu gostava) encontrei uma possibilidade para que a triste frase do meu tio querido ficasse apenas pela metade, sem pátria. Estavam a futura cunhada, uma amiga, e a Tereze. A Guria olhava pra mim como quem enxergasse um prato cheio de quindins, quando se esta com muita fome. Adorei! pensei, o Papa polaco realmente era gaúcho e o Terezão todo bacana! Até que ela me disse que falava italiano, pois já havia morado na Italy, e adorava a língua. Eu, como todo o carente metido a esperto, resolvi dizer que entendia italiano, que mancada! A guria falava mesmo, falou um montão e me perguntou, não vais dizer nada? Eu: te falei que entendo, não disse que falava. Bá! ouvi desaforos mil! Depois fui explicar pra "ex- futura cunhada" o que havia acontecido. Um tempo depois, o Terezarão chegou perto de mim e disse: forgive me? Entendi que ela queria dizer: me esqueça, seu trouxa! (forget me!) disse até outro dia, e fui embora. Cheguei na maloca e corri para um dicionário, lá estava escrito: forgive me (adv tr id), gaúcho carente e com fraco, muito fraco inglês, que se faz de espertinho e perde inglesa toda boa para pelos menos papear as vezes, me odiei!

Tuesday, November 15, 2011

Benevolência

Ser simples e modesto, seriam seguramente as únicas qualidades que ainda me faltavam. Depois que vim morar na Europa, elas apareceram naturalmente. Quando entendi o que os londrinos do norte tentavam falar, comecei a entender todas as letras das músicas inglesas, e também a língua que os americanos costumam vomitar. Os estrangeiros que falam fluentemente inglês, tenho mais paciência e digo as vezes: calma, respira fundo e tenta te expressar de novo. Antes, quando não entendia os caras, eu ficava triste com meu suposto analfabetismo, agora, acho que eles deveriam procurar um fonoaudiólogo e fazer um tratamento longo, não tenho pena dessa gente. Como minha modéstia já se fez presente, estaria na hora de comentar sobre minha simplicidade. Fui pegar um café, e um papo pegando fogo no local. Um nativo: po! não me interpretem mal, mas até quando o nosso governo vai dar ajuda financeira aos casais do leste-europeu que resolvem ter filhos aqui? Já não basta os que não são britânicos e são residentes? Ele continuando o desabafo: qualquer branquela, bebedor de vodka, que resolver facilitar a vida viria para cá, ter filhos e receber benefícios, até quando? A England, esta com um pé na falência, e ajudando financeiramente muitos "habitantes" sem nenhum critério. Depois, uns me criticam quando digo que os caras são atores de circo dos narizes vermelhos. Se não ficou clara minha simplicidade, deveria voltar para a parte da modéstia, era mais simples e muito mais fácil de tentar explicar.

Sunday, November 13, 2011

Na contramão

Trabalho com três engraçadinhos. Num dia de chuva cheguei todo molhado, água escorrendo careca abaixo. O Paul rindo da minha cara: e aí, a tua bicicleta elétrica não te deu nenhum choque? O Pip: próxima vez deverias comprar uma com telhado. Antes que o Vikas chegasse e dissesse mais alguma gracinha, disse: não vou comprar bicicleta nenhuma, vou comprar um carro e deixar de ser alternativinho. O Pip: compra o meu usado então, tá lá no estacionamento, quero 600 pilas. A chuva deu uma parada e fui ver de perto o carro o que o Philipp queria me empurrar. Achei o preto carrinho tudo de bom. Voltei pra sala e disse: queres 600 pilas pelo carro? ele: é. Sem acreditar muito na coisa, passei num caixa eletrônico peguei 600 pilas e no outro dia dei as notas para o perdulário. Ele: amanhã trarei os papéis para assinarmos. Depois de termos assinado a papelada, ganhei uma chave e fui ver o que tinha comprado. 46mil Kms, air bag, direção macia, vidros e trancas elétricas, CD player de fábrica, faróis regulados eletronicamente, manual intacto, limpo, sistema anti-furto e tanque cheio. Fui indignado falar com o doido: Pip tu és maluco? Ele: eu sei que o carro vale muito mais, mas trabalhamos há tanto tempo juntos e gosto muito de ti, comprei um carro novo e resolvi me fazer de otário. Vais reclamar? Lembrei de como foram dramáticas as compras de carros que fiz no Brasil. Mesmo quando novos, nunca pude acreditar nas promessas mirabolantes dos vendedores.

Friday, November 11, 2011

Amigo Gary

Quando consegui usar um telefone sem achar que a coisa me morderia, liguei para uma pessoa que estaria alugando um canto para solteiros. Usei todas as aulas de inglês que tive, e as que matei pra entender o que a(enorme) tia Irlandesa falava. Acertei a esquina e pude me encontrar com a dona da minha nova trincheira. Na nova trincheira estava o Gary, 40 e poucos anos e otimista. Casado e bem, vi fotografias da gringa, uma filha linda, muitos sonhos e planos. O cara perdia horas e horas querendo me ensinar a língua dele, ficamos amigos de cara. Ele usava blazer e gravata sempre, eu dizia: deixa de ser ridículo! estas em casa, vai lá por uma camiseta. Ele: Rogd, eu tenho que criar condições pra trazer as minhas duas para viver em Londres comigo, a coisa ficou impossível na minha cidade. Quem serias tu pra me recriminar, um estrangeiro cheio de vida e te escondendo atrás das dificuldades de uma simples língua. Rodg, põe um blazer e diz que tu queres o emprego de gerente, pelo menos. Eu: Gary, eu sou brasileiro, falo ingles que aprendi na escola. Ele: Rogd, tu sempre vem com desculpas para nao fazer as coisas. Vamos lá no pub, pago as cervejas, ver uma partida de rugby? eu te ensino o jogo é facil de entender, vais adorar! Tenho muitas saudades do meu amigo inglês, ele nao seria a pessoa mais normal que conheci, mas seguramente a mais corajosa e mais estimuladora que a sorte pode colocar no meu caminho.

Thursday, November 10, 2011

Dois patetas

Teclas, seguidamente tentam apanhar meus quatro dedos apertadores. Eles fogem delas, porque são meus aliados e querem apertar aquelas que melhor definam o que sinto. As vezes, por causa dessa disputa ridícula, quem acaba "pagando o pato", seria exclusivamente eu. Se essa desculpa não "colar", tenho outras para tentar justificar minhas indignações. O muito inteligente senhor Wernher von Braun, foi o chefe de uma turma de brilhantes cientistas que fizeram o projeto V-2 virar realidade, depois do fracaço da bomba anterior. A bomba V-1 era um foguetinho lento, qualquer marinheiro interceptaria e interceptavam. A V-2 não tinha como parar, era uma bomba/foquete de endereço certo. Falar em números de mortos ou sentimentos das pessoas que sobreviveram seria ridículo agora, meus dedos não estão deixando. As teclas diriam que o inteligente alemão foi recepcionado com glórias nos USA, após o suicídio de seu anterior adorado chefe, Hitler. O nazi/alemão não era qualquer um, chefiou a turma que criou o foquetão que possibilitou as Apollo levar os americans à lua. Nem por isso, cá entre nós, ele deveria ter sido absolvido pelos milhares de mortos que a sua inteligência causou. Enfim, Almodovar tá definitivamente esclerosado, Melancholia é um filme chato pra caramba, Disney dinheirista e os americanos em geral são gordos e bobos.

Sunday, November 06, 2011

Parece mentira

Numa noite como qualquer outra, a dor no peito que estava me incomodando fazia uns dias, deu uma piorada. Pensei que eu teria um problema muscular nas costelas, e nada melhor para aliviar o desconforto do que usar o remédio que minha avó usava para resolver meus resfriados infantis, passei Vick vaporub no local. Descobri imediatamente que eu não tinha nenhum problema muscular, de como é bom poder respirar normalmente, e que eu sou um gênio. Resolvi colocar roupas adequadas para dar uma caminhada pela rua e respirar ar puro, imaginei que me ajudaria. Não funcionou. A coisa tava piorando, não estava mais conseguindo me mexer, caminhar nem pensar. Resolvi pegar um táxi e ir para a emergência do hospital que já sou freguês. Nenhum táxi parou. Quem pegaria um futuro passageiro que caminhava como uma tartaruga, com uma mão colada no peito e deveria estar meio azul? segui minha jornada sem magoas. No trajeto da minha salvação, um inglês sentado na frente de uma loja, me perguntou: Ei, tu estas bem? e eu: não! to tentando chegar no hospital. Ele: boa sorte! eu: obrigado! segui minha viagem...
Quando consegui chegar na esquina do hospital, e que avistei uma ambulância, pensei em me deitar na calçada para descansar um pouco. Meus brios foram mais fortes e tive que caminhar mais uns longos 46 metros. Chegando na recepção disse: não to conseguindo respirar direito. A atendente: nome, endereço e data de nascimento, por favor? Eu: Rogério, e dei um cartão para que ela entendesse o sobrenome, eu não poderia soletrar. Em instantes, veio uma cama de rodinhas me buscar. Me encheram de durex com fiozinhos grudados e então perguntei: vocês estão achando que eu tive um ataque cardíaco? o prolíxo enfermeiro disse: ahrrã. Me reviraram e depois descobriram que eu estava com uma inflamação numa costela e que em dias eu estaria bem de novo. Nunca tinha ouvido falar em costelite, nem pra quem eu já contei essa historia, mas se por acaso alguem repetir minha doença particular, por favor! não passem nem bala de menta no local.

Friday, November 04, 2011

No dos outros

Ontem, antes de dormir, dei uma olhada nas figuras que representam milhares de pessoas na crise econômica europeia pela televisão. Angela, Barak, Nicolas, e o adolescente inglês pareciam estar absolutamente apavorados. O primeiro-ministro grego como que blefando no poker, enquanto o tranquilo Berlusconi deveria estar fazendo contas sobre se a crise afetaria o seu charme pessoal. A Dilma, como sempre, elegante. Gostei da coisa, postergando meu sono, troquei de canal e lá estava o embaixador brasileiro falando sobre a crise. Perguntado sobre se a Europa deveria pedir ajuda ao FMI ele foi categorico respondendo, disse: o Brasil foi cliente do FMI por anos, usamos o dinheiro para sairmos de várias crises e saímos de todas. A Europa poderia usar o FMI sem medos. O Brasil, firma a sua intenção de ajudar a Europa nessa crise, apenas gostaríamos de saber para onde iriam os recursos, e quando eles seriam ressarcidos. Foi muito bom ter ouvido isso.