Sunday, December 18, 2011

Xadrez

Tive duas avós meio marketeiras. Na primeira vez que voltei ao Brasil em férias, estava ainda aprendendo coisas com a que me abandonou por último, e aproveitei bastante. Era meu aniversário, dia de sol na praia, a figurinha olha para mim e diz: filho, pega este dinheirinho e compra uma coisa que gostes. Peguei as notas e me dei conta da enrascada que a vó tinha me enfiado. Comprar o que? do que eu gosto? do que preciso? Uma nuvenzinha preta apareceu a um metro sobre minha cabeça. Eu tinha que resolver a encrenca, afinal o dinheiro era da pensão dela, eu teria que gostar do presente, lembrar dela, uma coisa original, criativa, carinhosa. Eu deveria estar com uma cara de catacumba, porque meu pai disse: o deprimido, preciso dar umas voltas e não to afim de dirigir, vamos? Disse: To nessa. Fomos numa ferragem, e o papo fluindo, madeireira, banco, padaria, super mercado e esqueci do problema que a vó tinha me arrumado por uns minutos. Quando lembrei, disse: pai, a vó me ralou, ela me deu uns pilas pra eu comprar alguma coisa que eu queira e eu não sei o que fazer com isso. Ele: levei muitos anos para gostar da minha sogra, sabes o quanto gosto dela agora, mas ela sempre foi terrível. Nisso, apareceu pelo vidro do carro, um vendedor de redes. Comprei, pela metade do preço, a rede mais linda que possa existir. Como sempre, meu pai tinha entendido minhas entrelinhas. Depois que compramos a rede, precisavamos mostrar para a sogra dele o resultado da minha penúria resolvida. Mostrada, sentamos na nossa mesinha de perder no xadrez tranquilos e felizes. Era meu aniversário. A vó ainda hoje vive dentro de mim, e também pendurada na minha casa. Adorava ela.

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