Thursday, October 28, 2010

Batata caponense

O avô que pude conhecer era metódico, sério e durão. Nos veraneios, tive a oportunidade de conviver com primos e tios. Os filhos dele se escondiam pra não levarem um sermão ou terem que ajudar em alguma atividade previamente planejada. Tudo tinha que ser feito como ele tinha pensado, sem nenhuma abertura pra negociações. Eu, como não tinha noção do perigo, volta e meia questionava as ideias dele, com a educação possível, eu tinha uns 5 anos de idade. O vô me irritava muito, quase sempre. Acho que minha ingênua bravura fez com que ele gostasse bastante de mim. Nas idas de inverno até a praia, eu sempre fui o neto convidado, aproveitei todas as vezes. A garagem era enorme, parecia um museu, e quando eu quisesse, ele prontamente me dava a chave do atual flamante Aero Willys pra usar as ferramentas, que estavam numa malinha de couro no porta malas. Eu colocava tudo de volta como estavam, foi a minha primeira experiência com o jogo da memória, louco sempre fui, mas burro, a este ponto, não. O casarão e a praia não existem mais. A casa ficava na rua Moacir na agora cidade Capão da Canoa. Lá, fui apresentado pro almanaque do gigantesco Correio do Povo, dormindo no quarto da vó e do vô, talvez por isso me incomode o sobrenome equivocado da batata. A batata nunca foi inglesa, os Incas que "inventaram" o tubérculo batatoso. Acho que o seu Ewaldo gostava muito de mim, talvez por algum sentimento de culpa que a xaropice dele possa ter me contaminado. Eu gostava muito daquele meu avô.

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